Clínica Integrada do Aparelho Digestivo Endoscopia e Fisioterapia

Úlcera, Gastrite, Duodenite e Refluxo Gastresofágico

Úlcera

O trato gastrointestinal inicia na cavidade oral e terminando no ânus, englobando, em sua extensão, esôfago, estômago, intestino delgado (subdividido em duodeno, jejuno e íleo) e, finalmente, intestino grosso (subdividido em cólon, sigmoide e reto.

As úlceras consistem em defeitos da parede interna (chamada de "mucosa") resultados de algum tipo de agressão, seja por calor, pela ação de ácidos, seja por efeitos de medicamentos e toxinas. Na cavidade oral, estas úlceras são conhecidas como aftas (ou úlceras aftosas). No esôfago (que conecta a cavidade ora ao estômago), são mais comuns as erosões, geralmente relacionadas à exposição crônica ao ácido estomacal (relacionada à Doença do Refluxo Gastresofágico, que será explicada a seguir), ou, menos frequentemente, ao calor. Já no estômago e no duodeno (parte do intestino delgado), ocorrem as úlceras pépticas, que também estão relacionadas à agressão das mucosas pelo ácido estomacal, gerando os sintomas associados à Gastrite e à Duodenite.

Doença do Refluxo Gastresofágico (DRGE)

A DRGE é uma Síndrome que se desenvolve quando o refluxo ("retorno”) do conteúdo estomacal (ácido) e/ou intestinal (bile) para o Esôfago provoca sintomas graves e/ou complicações importantes. Estima-se que esta doença atinja até 20% da população do mundo ocidental e cerca de 5% da população oriental, o que já indica uma influência importante de fatores ambientais (ou seja, externos, como alimentação e estilo de vida) na patogenia da doença.

Em termos gerais, acredita-se que a DRGE esteja relacionada ao desequilíbrio entre as defesas da mucosa e a produção de ácido estomacal e à ineficácia da válvula esofagogástrica, uma espécie de "porta" que separa o Esôfago do Estômago. Além disso, existem os fatores comportamentais e ambientais que foram citados acima e que serão discutidos novamente abaixo.

Os sintomas da DRGE são, tipicamente, pirose ("azia"), que se caracteriza por uma sensação de queimação no peito, geralmente na região central, podendo se estender até as costas, e regurgitação, definida como a sensação de que o conteúdo estomacal "voltou" em direção à cavidade oral. Além disso, pode haver dificuldade para engolir (disfagia), hipersalivação e, menos frequentemente, náuseas e vômitos.

Geralmente, a DRGE pode ser diagnosticada através dos sintomas, sem qualquer exame laboratorial ou de imagem. Porém, em alguns casos, os sintomas não são tão característicos ou se confundem com os sintomas de outras doenças (inclusive de doenças cardíacas): nestes casos, existem algumas opções que permitem uma avaliação mais aprofundada e precisa do indivíduo. Dentre estas opções, encontra-se a Endoscopia Digestiva Alta (EDA), que permite a visualização da parede interna do Esôfago e, deste forma, a avaliação do grau de erosão, se houver, e a exclusão de outras doenças mais graves, como o câncer de esôfago.

O tratamento da DRGE pode envolver uso de medicamentos como os Inibidores de Bomba de Próton (por exemplo, o Omeprazol®), que reduzem a liberação de ácido pelas células estomacais, e até mesmo procedimentos cirúrgicos, que visam a aumentar a eficácia da musculatura que separa o Esôfago do Estômago e, assim, reduzindo a passagem do ácido. Porém, em grande parte dos casos, especialmente quando não existem complicações importantes, o tratamento pode consistir apenas em medidas comportamentais, reservando-se o tratamento medicamentoso ou cirúrgico para casos considerados refratários, ou seja, que não são solucionados com a alteração do comportamento.

Medidas comportamentais úteis no tratamento do refluxo Gastroesofágico

Dentre as medidas comportamentais que podem corroborar para a diminuição, ou até eliminação, dos sintomas, destacam-se as seguintes:

  1. ELEVAR A CABECEIRA DA CAMA CERCA DE 15 A 20 CM
    Para tanto, deve ser utilizado um calço nos pés da cama: travesseiros mais altos ou o uso de mais de um travesseiro não são eficazes e podem até aumentar os sintomas, na medida em que podem provocar o aumento da pressão intra-abdominal, facilitando o refluxo;
  2. EVITAR DEITAR-SE APÓS AS REFEIÇÕES PRINCIPAIS:
    Idealmente, deve-se aguardar pelo menos duas horas após uma refeição;
  3. EVITAR REFEIÇÕES COPIOSAS E RÁPIDAS
    Podem prejudicar a digestão, favorecendo o refluxo;
  4. UTILIZAR CINTOS E ROUPAS FOLGADAS
    Roupas apertadas podem comprimir o estômago e facilitar o refluxo, especialmente ao deitar-se;
  5. EVITAR TABAGISMO
    O cigarro, além de todos seus prejuízos na pele, no coração e na respiração, reduz as proteções da mucosa do estômago;
  6. EVITAR ALIMENTOS OU BEBIDAS QUE IRRITEM A MUCOSA GÁSTRICA
    Entre eles, encontram-se alimentos gordurosos, chocolate, alimentos cítricos (como tomate, limão, laranja) e seus derivados, bebidas alcoólicas, café, refrigerantes e temperos fortes (como alho e cebola);
    É importante ressaltar que estes alimentos nem sempre são a causa do refluxo e a restrição de sua ingesta pode não aliviar os sintomas de todos indivíduos;
  7. COMER MAIS VEZES AO DIA, PÓREM EM MENOR QUANTIDADE
    Não existem regras rígidas, mas períodos prolongados de jejum entre as refeições favorecem a produção de ácido estomacal, intensificando os sintomas
  8. MANTER OU REDUZIR O PESO CORPORAL
  9. EVITAR MEDICAMENTOS QUE AGRIDAM A MUCOSA GÁSTRICA
  10. EVITAR EXERCÍCIOS FÍSICOS INTENSOS OU QUE AUMENTEM A PRESSÃO INTRA-ABDOMINAL

Cabe lembrar que é sempre importante a avaliação de um profissional especializado antes do estabelecimento das medidas citadas acima, na medida em que é importante excluir outras doenças com sintomas semelhantes e potencialmente mais graves e que o tratamento deve ser adaptado da melhor forma possível às necessidades e ao estilo de vida de cada indivíduo;

OBS Antiácidos (por exemplo, Sal de Frutas e Leite de Magnésio) não previnem os sintomas, provocando apenas um alívio temporário e, se não utilizados juntamente com outras medidas farmacológicas ou comportamentais adequadas, podem aumentar os sintomas devido a um efeito rebote de estímulo à secreção de ácido estomacal.

Gastrite e Duodenite

A gastrite e a duodenite são relacionadas à presença de úlceras no estômago e no duodeno, respectivamente, e à resposta inflamatória decorrente destas úlceras.

Os principais fatores que desencadeiam estas condições estão relacionados ao desequilíbrio entre as defesas da mucosa gastrointestinal e as agressões a esta mucosa, ou seja, tanto a diminuição das defesas ou o descontrole das agressões podem resultar no aparecimento de úlceras e dos sintomas relacionados a elas. Existem, também, alguns fatores externos conhecidos que agridem a mucosa, facilitando a formação de úlceras (especialmente quando já existe alguma predisposição). São eles o uso crônico de anti-inflamatórios (como Aspirina® e Ibuprofeno®) e a bactéria Helicobacter pylori, que está presente em cerca de 50% da população, mas agride indivíduos suscetíveis.

O sintoma mais comum das úlceras pépticas é a dispepsia, que consiste em dor na região superior do abdome, às vezes mais intensa no lado esquerdo, intensificando-se, geralmente, cerca de 4-5 horas após refeições e durante a noite. Em alguns casos, as úlceras podem se tornar assintomáticas, porém, mesmo nestes casos, ainda há risco de desenvolvimento de complicações importantes.

Dentre as complicações mais comuns e graves da gastrite e da duodenite, encontra-se a hemorragia (sangramento) devido à perfuração de toda a profundidade gastrointestinal e ao comprometimento de artérias importantes (mais grave no caso de úlceras duodenais), e a formação de fístulas, que consistem em espécies de túneis que conectam dois órgãos ou estruturas ocas que não são conectados naturalmente. Além disso, as úlceras pépticas são um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer gástrico, especialmente quando há presença de Helicobacter pylori.

Sendo assim, a investigação e o diagnóstico precoces destas doenças são extremamente importantes, na medida em que permitem uma intervenção rápida e segura, prevenindo a ocorrência das complicações citadas acima. O diagnóstico definitivo das úlceras pépticas é, na maior parte das vezes, realizado através da EDA, que também permite, em alguns casos, a hemostasia de sangramentos e até a retirada de tumores malignos em fase inicial.

Quando necessário, o tratamento das úlceras pépticas também inclui as medidas comportamentais citadas acima, na seção de DRGE, especialmente a eliminação do tabagismo e do etilismo, na medida em que ambos aumentam a incidência de complicações.